Colagem com vários desenhos que representa uma floresta

Fabricar em madeira incentiva à desflorestação?

Material natural apreciada pelas suas qualidades, a madeira também é hoje conhecida por toda a dimensão sustentável que a acompanha (apesar de, por vezes, ainda haver algumas resistências a priori) .

O que é a desflorestação? Quais são as suas consequências? Utilizar madeira na conceção de produtos no setor industrial é, em última análise, uma boa ou má ideia? E em comparação com o plástico...? A realidade é que o ato de produzir, transportar, preservar um objeto, seja ele qual for, tem necessariamente algum impacto. Como se pode então achar um equilíbrio?

Fabricar em madeira: causa ou consequência da desflorestação?

No final do séc. XIX, com o aumento da população, a produção de madeira registou um forte crescimento para suprir as necessidades de todos. É a matéria mais utilizada no setor industrial. Resultado: no início do séc. XX, apenas 10% da superfície do país era arborizada. Foi aí que se começou a ganhar consciência pela primeira vez, levando às primeiras medidas de proteção das florestas.

O mundo do desporto não era alheiro ao uso de madeira! Todos nos lembramos do par de skis de madeira no sótão dos nossos avós, ou da velha raquete de ténis vintage: a madeira está em voga e é apreciada pelas suas qualidades.

É em meados do séc. XX que o mundo industrial começa a interessar-se por outros materiais: dá-se a revolução do plástico. Mais fácil de trabalhar, mais rápido e não sofre alterações ao longo do tempo. A madeira é relegada para segundo plano e uma parte da sua utilização cai.

Há simplesmente uma tomada de consciência a nível mundial acerca do impacto global dos materiais. As pessoas começam a interessar-se pelos objetos e pelo modo como são fabricados. Criam-se condições para avaliar o impacto de um produto durante todo o seu ciclo de vida e de medir o impacto dos materiais utilizados. Com estas medidas, os materiais de origem natural parecem representar uma certa vantagem ambiental: nalguns casos, menos emissões de CO2 face a outros materiais.

Raquete e taco de hoquei representados por colagem

Os atores do setor industrial estão novamente interessados na madeira. Hoje, para a redescoberta deste material, é fundamental enquanto designer de produtos, escrever um novo capítulo lúcido sobre a utilização da madeira, para evitar os erros do passado, com consciência dos desafios do presente, e garantir um futuro sustentável.

Porquê utilizar madeira na conceção de um produto?

Fabricar em madeira é apostar tanto nas características técnicas como na vertente tradicional.

No domínio dos artigos de desporto (por acaso :) ), encontramo-la maioritariamente em elementos de estrutura ou em substituição de painéis lisos do produto, no caso de uma bicicleta estática de madeira, nas peças que sustentam a bicicleta: os pés, o quadro e a potência). Também está associada à preensão dos objetos: as pegas de uma trotinete, de uma bicicleta, proteções de pulso, etc.: a madeira é agradável à preensão.

De um ponto de vista puramente técnico, a madeira traz benefícios ao produto como uma mínima densidade, garantindo durante a utilização uma espécie de elasticidade do material: por exemplo, quando a bola de cricket bate no taco de madeira a alta velocidade, esta vai absorver o choque, sem prejudicar contudo a sua leveza. A madeira também está associada a toda uma perceção que apela à dimensão sentimental. Mais especificamente, é um material estético, agradável ao toque e desempenha funções de design importantes. O charme de um alvo de cortiça, de um banco de yoga de madeira são argumentos prevalecentes na escolha do material durante a conceção. Ao contrário do plástico, que contribui para uma maior flexibilidade no fabrico de peças, a madeira é um material que exige simplicidade e eficácia. Para montá-la, colamos, aparafusamos ou encaixamos por blocos, vigas ou placas. Este constrangimento proporciona aos engenheiros a oportunidade de se concentrarem no essencial.

Quanto à vertente tradicional, utilizar madeira na conceção de um produto também significa subscrever a uma determinada escola, simplesmente. Os tacos de hóquei, os chinquilhos ou mesmo os tacos de bilhar são alguns dos exemplos emblemáticos de artigos de desporto de madeira. Ainda hoje conservam os mesmos materiais de conceção por respeito à tradição, mas também devido às propriedades e vantagens do material.

TIras de madeira

Qual é o impacto ambiental da madeira?

A madeira, como qualquer outro material, não é um material desprovido de impacto ambiental. Apesar de se inserir na categoria dos materiais naturais, precisa de passar por alguns processos de transformação. Quer seja o corte, o transporte ou o tratamento de proteção com diferentes consequências no tempo ou na utilização, a madeira não surge "pronta a usar".
Podemos falar da secagem da madeira, por exemplo. Nos países quentes, aproveitamos os raios solares para secá-la. Mas quando o clima não o permite, a madeira é secada de forma acelerada através do aquecimento a óleo, aumentando consideravelmente o seu impacto ambiental...
Para garantir que o fornecedor de madeira utiliza métodos mais ecológicos, podemos apoiarmo-nos em certificações externas. As mais conhecidas e fiáveis são as certificações FSC (Forest Stewardship Council) e PEFC (Programme for the Endorsement of Forest Certification Schemes). Estas certificações constituem garantias de que a madeira do silvicultor será obtida de forma sustentável. A União Europeia definiu este conceito de gestão sustentável. Isto significa que "o silvicultor se compromete a fazer uma gestão e uma utilização dos terrenos florestais de uma maneira e com uma intensidade tal que preservem a sua biodiversidade, produtividade e capacidade de regeneração, vitalidade e capacidade de desempenhar, no presente e no futuro, as funções ecológicas, económicas e sociais pertinentes, a nível local, nacional e internacional, e que não prejudique outros ecossistemas."

Como ter a certeza de que se está a fazer bem?

A certificação nem sempre garante um impacto ambiental reduzido: é preciso ter consciência disto quando se assume uma visão global do ciclo de vida do produto. Um produto proveniente de árvores abatidas num país próximo do seu local de fabrico e distribuição, sem certificação FSC, tem um maior impacto do que um mesmo produto proveniente de uma árvore certificada FSC que cresceu no outro canto do mundo? Não é fácil encontrar as respostas certas... A avaliação ambiental dos produtos pode ser uma pista para tentar decidir, mas esta não deixa de ser uma questão complexa.

Todas as florestas do mundo são essenciais ao equilíbrio do planeta.

As florestas cobrem hoje quatro mil milhões de hectares, o equivalente a 30% da superfície terrestre. Mas esta é uma riqueza ecológica sob ameaça: todos os anos, desaparecem 13 milhões de hectares de florestas, ou seja, um quarto da superfície da França.
Todas as florestas do mundo são, contudo, essenciais ao equilíbrio do planeta. A desflorestação representa uma ameaça tripla: à biodiversidade, ao equilíbrio climático mundial e às condições de vida das populações locais que habitam as áreas florestais.

Quais são os perigos da desflorestação?

As florestas desempenham um papel essencial no processo de fotossíntese. As árvores absorvem e armazenam o dióxido de carbono nas suas raízes, troncos, ramos e folhas. As florestas, particularmente os solos florestais, constituem o segundo maior poço de dióxido de carbono do planeta depois dos oceanos. As florestas permitem, por isso, limitar o aquecimento global. Estes poços de carbono são meios vulneráveis cuja capacidade é debilitada pelo aquecimento global e os seus efeitos. A gestão sustentável das florestas também permite conservar ou melhorar a captação de dióxido de carbono na floresta. A conservação das florestas é um dos grandes fatores propulsores da transição para a baixa emissão de carbono.

Picto com um globo e colagens

Porque é importante saber tudo isto? Simplesmente porque se soubermos toda esta informação, temos a garantia de que a matéria-prima utilizada provém de uma fonte fiável, legal e sustentável.

O que é que isso implica ao certo?

Dito de forma simples, podemos ler num mapa todo o percurso de um material. Neste percurso, os pontos são etapas por que passa o produto e inclui detalhes sobre o local de extração, o nome da empresa interveniente. Assim, podemos dominar toda a cadeia de valor e encontrar em conjunto com os nossos fornecedores e parceiros soluções com um menor impacto no ambiente.

(E para satisfazer a tua curiosidade, em 2021, na Decathlon, 20% do volume de negócios mundial deveu-se a produtos provenientes de fontes francesas. O resto vem da China, do Vietname e da Índia. Podemos fazer melhor? Sem dúvida, e estamos a fazer por isso.)

Pictograma de 2 pessoas a trabalhar sobre uma maquina de costura

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